quarta-feira, 25 de abril de 2012

Pingo de Fortaleza - Uma chuva de musicalidade comprometida




Compositor, músico, brincante, pesquisador  e produtor cultural Pingo de Fortaleza é um artista  que nasceu um ano antes do Golpe Militar e que se envolveu com a música  e com outras linguagens artísticas na adolescência. Recebe esse pseudônimo por ter nascido prematuro. Com uma grandeza de olhar ele destaca que definir o que é  popular e  contemporâneo  está cada fez mais é difícil e perigoso usar estas compartimentações no campo da cultura e da arte. 


Alexandre Lucas – Quem é Pingo de Fortaleza?

Pingo de Fortaleza - João Wanderley Roberto Militão, nascido prematuro em Fortaleza no dia 08 de fevereiro de 1963, músico desde a adolescência e um eterno apaixonado pela arte da vida e pelas artes.

Alexandre Lucas – Fale da sua trajetória?

Pingo de Fortaleza - Comecei ainda menino tocando violão no bairro José Walter e em seguida junto aos amigos da ETFCE onde cursei meu segundo grau, depois fui cursar música na UECE e neste tempo já havia me envolvido com parceiros do teatro e da poesia. Ali no universo do movimento estudantil do inicio da década de 1980 fiz minhas primeiras apresentações e meus primeiros espetáculos individuais. Depois gravei meu primeiro LP em 1986 e nunca mais parei de produzir e seguir nesta viagem musical.

Alexandre Lucas – Como se deu sua relação com a música?

Pingo de Fortaleza - De forma natural, recebendo informações de todas as formas e linguagens e se fortaleceu na adolescência com a audição das músicas do Pessoal do Ceará.




Alexandre Lucas – você é autor do livro Maracatu Az de Ouro – 70 anos de memórias, loas e batuques. O que representa a publicação deste livro para o Maracatu Cearense?

Pingo de Fortaleza - Tenho mantido um envolvimento com o universo da cultura do maracatu do Ceará desde 1990 quando criei a canção Maculelê, acho que o livro traduz um pouco todo o meu aprendizado neste segmento e revela através da história do Maracatu Az de Ouro que ainda precisamos de muitos registros para reconhecer profundamente à rica e significativa presença do maracatu na cidade de Fortaleza.

Alexandre Lucas – Além de pesquisador, você é brincante de Maracatu. Isso possibilitou um olhar diferenciado para produção do seu livro?

Pingo de Fortaleza - Ser brincante me deu mais felicidade em conseguir produzir este trabalho, pois vivo este universo e procuro recriá-lo sempre.

Alexandre Lucas – você é um dos fundadores do Maracatu Solar. Como vem sendo desenvolvido esse trabalho?

Pingo de Fortaleza - O Maracatu SOLAR é um Programa de Formação Cultural Continuada da ONG SOLAR (ONG criada por mim e alguns parceiros em 2005) e de certa forma essa atividade deu mais visibilidade e articulação a SOLAR e também nos possibilitou uma prática mais livre desta manifestação.

Alexandre Lucas – Você agrega na sua musicalidade o popular e o contemporâneo?

Pingo de Fortaleza - Em minha arte agrego sempre aquilo que me vem de inspiração e atualmente tenho usado pouco essas nomeclaturas, por compreender que todas os gêneros estão de certa forma conjugados e que está cada fez mais é difícil e perigoso usar estas compartimentações no campo da cultura e da arte.

Alexandre Lucas – Como você ver a relação em entre arte e política?

Pingo de Fortaleza - Acho que no campo filosófico a arte é parte integrante das relações humanas na sociedade, portanto qualquer fazer artístico é uma ação política, contudo não me refiro à política de estado ou governo.

Alexandre Lucas – Quais os seus próximos trabalhos.

Pingo de Fortaleza - Depois dos cds Prata 950 (2009), Ressonância Instrumental (2010) e Axé de Luz(2011), pretendo lançar um novo livro sobre os universo rítmico do maracatu do Ceará e estou trabalhando num projeto intitulado "Pérolas do Centauro - 40 Anos da Música Cearense e 30 Anos da Musicalidade de Pingo de Fortaleza (1972-2012, Compositores e Intérpretes)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Jaquelina Rolim – Uma visão além dos olhos



Deficiente visual, massoterapeuta, fotografa e presidenta do Centro Educativo do Cariri de Apoio as Pessoas com Deficiência Visual - CEC, Jaquelina Rolim de Oliveira consegue enxergar além do seu umbigo e diz que qualquer deficiência só tem dificuldade quando não existe acessibilidade e acrescenta que não se admite a inclusão social sem o acesso à formação pessoal e profissional.

Alexandre Lucas – Quem é Jaquelina Rolim de Oliveira?

Jaquelina Rolim - Sonhadora com um mundo igualitário onde “ser diferente é normal”. Com baixa visão decorrente da perda gradual da visão na área central da retina, luto por uma sociedade justa e inclusiva, sem indiferença e com melhorias de vidas. Humilde serva de Deus com fé para enfrentar os desafios do dia a dia crendo na vitória.

Alexandre Lucas – Como teve inicio seu contato com a fotografia?

Jaquelina Rolim - Lendo alguns livros do fotógrafo cego EvgenBavcar despertou em mim o interesse pela fotografia.Espelhada no seu exemplo de superação decidi ir além dos meus limites e entrar no universo da arte.O primeiro contato foi no curso de fotografia ministrado pela professora Nívea Uchôa no SENAC Crato-CE.

Alexandre Lucas – Fale da sua trajetória:

Jaquelina Rolim - Comecei a fotografar a partir das experiências adquiridas no curso básico de Fotografia Digital, promovido pelo SENAC do Crato – CE e após fazer o curso de aperfeiçoamento, ministrado pelo renomado professor e profissional de fotografia, Dimang Kon Beu, radicado em Minas Gerais.

Alexandre Lucas - O que você gosta de fotografar?

Jaquelina Rolim - Prefiro registrar imagens do dia a dia que muitas vezes passam despercebidas para a maioria das pessoas. Imagens de lugares, pessoas e situações que nos remetem a sensações de tranquilidade, quietude e vida.

Alexandre Lucas - Você acha que a fotografia é um instrumento político?

Jaquelina Rolim - Com certeza. A fotografia apresenta e denuncia situações de lugares e pessoas no seu cotidiano.

Alexandre Lucas – Você tem deficiência visual e é fotografa. Quais as dificuldades?

Jaquelina Rolim – Qualquer deficiência só tem dificuldade quando não existe acessibilidade. As melhores câmaras digitais ainda não oferecem acessibilidade completa, sendo a principal dificuldade encontrada.

Alexandre Lucas – Os deficientes visuais criaram o Centro Educativo do Cariri de Apoio as Pessoas com Deficiência Visual e você é a presidenta. Qual a função desse Centro?

Jaquelina Rolim - O CEC é uma Associação de Utilidade Pública, sem fins lucrativos.
Objetiva se estabelecer na região do Cariri, como referência na prestação de serviços de apoio para pessoas com deficiência visual. Através da educação, cultura e lazer oferece atendimentos de formação com reforço escolar, atendimentos psicológicos, oficinas de música, teatro, dança, gastronomia, esporte, cursos de braille, informática, esculturas em argila, fotografia entre outros.
Não se admite a inclusão social sem o acesso à formação pessoal e profissional. Esse é o caminho para alcançar o sucesso.

Alexandre Lucas – Quais as principais bandeiras de lutas dos deficientes visuais do Cariri?

Jaquelina Rolim - Inclusão no mercado de trabalho, acessibilidade na educação e em ambientes culturais com a presença de um profissional audiodescritor.

Alexandre Lucas – Quais os seus próximos trabalhos?

Jaquelina Rolim - Continuarei com a Exposição Fotográfica Olhar do Coração. Em parceria com o CEC lutando pela inclusão. Estaremos na Expocrato 2012 com stand mostrando nossa proposta e acolhendo os deficientes.

Contatos:

Jaquelina Caldas Rolim de Oliveira
E-mail: jmjkea1@gmail.com

Exposição Fotográfica Olhar do Coração
www.olhardocoracao.com
E-mail: olhardocoracao@gmail.com

CEC
www.cecariri.com
E-mail: ceccariri@gmail.com

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Auci Ventura - A artista de Cara pro mundo




Compositora, pesquisadora, educadora, cantora e "viajada". Auci Ventura se contagiou pela música ainda na infância, a partir das cantigas das brincadeiras de criança. Para a artista “é chegada à hora da reeducação do ouvido, de aprender e ensinar com prazer, abrir o caminho que devemos trilhar na descoberta dos sons. A propósito, o que deve fazer de todos nós, ouvintes atentos do nosso meio ambiente”. Uma artista preocupada com o mundo e com o conteúdo da sua musicalidade.

Alexandre Lucas - Quem é Auci Ventura?

Auci Ventura - Uma pessoa comum que ousa sobreviver daquilo que mais gosta de fazer: CANTAR, que acredita em Deus, gosta de privacidade e de silêncio, amante incondicional da paz e da justiça!
Detesta pessoas desonestas e abomina qualquer tipo de violência, assim como, todo e qualquer tipo de preconceito. Uma pessoa que separa seu lixo a mais de 30 anos e que acredita nessa atitude para ajudar o planeta.

Alexandre Lucas - Como se deu seu contato com a Música?

Auci Ventura - Acho que se deu meio que por acaso, desde criança por volta dos 7 anos nas brincadeiras de calçadas, era muito comum nos anos 70 as cantigas de roda do universo infantil aqui no Cariri.
Aos 8 anos fiz minha primeira apresentação no rádio, com Senhor “Eloia”, aos 9 já estava em São Paulo, aos 16 fiz minha primeira música, (toquei meus primeiros acordes no violão), fiz teatro. Aos 20 já cantava profissionalmente, aos 24, graduada em Educação Artística. O tempo voa kkkkkk.

Alexandre Lucas - Como Caracteriza sua Musicalidade?

Auci Ventura - Como uma propriedade natural inerente a meu ser, que tem por necessidade expansão e divisão. É inquietante e sempre em busca de novas emoções, advindas do universo de sons naturais e artificiais do todo existencial.

Alexandre Lucas - Qual a diferença em tocar em barzinhos e palcos?

Auci Ventura - Palcos Alternativos= Público pré selecionado, convocado.
Barzinhos = Público Livre e diverso (muda só o público, o trabalho em si para mim é igual). O que me importa é mostrar o trabalho, amo todo tipo de público de leigos a críticos.

Alexandre Lucas – Você compôs uma música de protesto contra a Indústria Cultural, qual sua análise das músicas tocadas nos veículos de comunicação de massa?

Auci Ventura - Já fiz várias musicas de protesto, principalmente nos anos 80, a que fiz atualmente trata de questões urgentes da contemporaneidade, lamentavelmente a música tocada para o grande público é de uma qualidade de enlatados para consumo imediato, ainda bem que são descartáveis, não permanecem.
A indústria cultural de enlatados artísticos, lança sem análise qualitativa seus produtos para um público alienável, sem educação auditiva que se condiciona com facilidade pela execução exagerada que a mídia propicia através dos jabás, que dá no que dá: LIXO!

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre Arte e Política?

Auci Ventura - A Arte está para Política, assim como o farol está para escuridão! É o Norte que dirige o olhar através das diferentes expressões para o acerto final. Que ousa, contesta e segue em frente adaptando-se as diferentes marés sejam cheias ou mansas, que percebe o movimento e cria estratégias para mudar o absurdo.

Alexandre Lucas - Qual a sua percepção sobre a musicalidade produzida na região do Cariri?

Auci Ventura - O Conceito de Musicalidade e Musicalidade Cariri:O que tenho a acrescentar nesse sentido, é que de fato são poucos os artistas da região que mostram em seus trabalhos musicais, elementos dessa musicalidade regional, o que de fato na verdade não tem nada de excepcional em sua estética formal. As referências históricas quanto à etnomusicologia local seguem os mesmo padrões de pesquisas antropológicas de diversas regiões do Brasil, o que afasta a idéia de ineditismo, exceto pela corrente gonzagueana que já faz parte do movimento modernista. Não quero aqui desmerecer os talentos regionais, que alias cito com muito carinho na pesquisa. Apenas quero focar no que realmente ficou na memória.
Tenho percebido através do Teatro, da literatura e das artes visuais produzidas no Cariri, uma representação mais fiel dos caracteres da cultura cariri, a música ainda deixa muito a desejar, mesmo porque em sua origem primitiva, o registro que temos de partituras chega a ser melodias enfadonhas e sem graça. (Auci Ventura apresentou a monografia com o tema: “MUSICALIDADE CARIRI:” UMA PROPOSTA EM ARTE – EDUCAÇÃO)

Alexandre Lucas - Quais os seus próximos trabalhos?

Deixo aqui um pouco do meu momento, que é de muito isolamento e concentração, entre Chapada do Araripe (Silêncio) x Urbanidade perturbada (Barulhos Urbanos), estou no limite, penso em dar uma volta novamente pelo mundo e levar um pouco da escola que pratiquei aqui para outros territórios do planeta. internacionais e nacionais. Me preparando para qualquer proposta descente. kkkk!!!!