domingo, 27 de fevereiro de 2011

Lula Gonzaga – Redescobrindo o Brasil com muita animação

Aos 15 anos, o pernambucano Lula Gonzaga se encantou com o cinema e hoje é a principal referência da cinematografia de animação do Brasil. Comunista, cineasta, disseminador da arte de animação no Norte-Nordeste, defensor da política de Pontos de Cultura como forma de empoderamento dos movimentos sociais. Lula Gonzaga será homenageado no Cariri – Estado do Ceará com Mostra de Animação que levará o seu nome e será realizada pelo Coletivo Camaradas em 2011.

Alexandre Lucas - Quem é Lula Gonzaga?

Lula Gonzaga - Pernambucano, cineasta de animação onde iniciou sua trajetória no desenho animado em 1971. Realizou sete curtas-metragens nas mais variadas bitolas: Super-8, 16mm, 35mm e em vídeo. Coordena o Ponto de Cultura Cinema de Animação e o Pontão de Cultura Cine Anima em Pernambuco. O nosso Ponto é principalmente um projeto itinerante que percorre todo o país realizando oficinas e mostras de animação em especial nas regiões Nordeste e Norte, já realizamos etapas também em outros países.
Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?

Lula Gonzaga - Aos 15 anos quando entrei pela primeira em uma sala de cinema de bairro no Recife, decidi que iria trabalhar com cinema. Aos 18, no final dos anos 70, fui para o Rio de Janeiro e 1971, comecei minha carreira profissional na PPP Produtora francesa no bairro da Glória.

Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?


Lula Gonzaga - Várias, partindo das salas de exibição onde assisti vários filmes de animação da Disney, a produção francesa e checa pois havia amigos que tinham estes filmes em Super-8, fundindo com as influências do grafismo regional da xilogravura, da literatura de cordel que observava nas feiras e mercados públicos, dos bonecos de barro de Caruaru que comprava para brincar, dos mamulengos e da música regional de Luiz Gonzaga etc.

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?

Lula Gonzaga - O ser humano não suportaria a vida sem a música, sem o cinema, sem a pintura, é inerente a condição humana, e tudo que diz respeito ao ser humano passa pela política, desde o preço do pão, a educação, a saúde, os rumos de uma nação, então todos precisam da arte e da política, não tem como separar, você pode não fazer política partidária, mas a política no sentido amplo está intrínseca a cada pessoa.

Alexandre Lucas - Contextualize a produção de animação no Brasil ?

Lula Gonzaga - A animação no Brasil como em todo o planeta está em momento de expansão, a animação está em todos os lugares: no cinema, na TV, na Internet, no celular. No Brasil, a animação sempre foi marcada pela dominação da indústria americana que monopoliza todos os canais de comunicação com o público, começando nas salas de cinema, na TV, agora na Internet, no celular e em todas as novas mídias que surgem. Em função desta dominação, a animação exibida no país sempre muito focada no público infantil, pois é onde começa a funcionar a “lavagem cerebral”, crianças a partir dos 2 anos de idade são alienadas pela produção exibida pelas “xuxa´s” e Cia. Trabalhando sem cessar nas cabeças dos nosso filhos para formar os novos aliados e futuros consumidores dos shoppings, delivery, Coca-cola, fost food etc. Hoje com as salas de exibição alternativas e em especial a internet, os jovens começaram a descobrir as produções de outros países que produzem filmes também para crianças e para outras faixas etárias em especial para a juventude. Com a chegada dos vídeos-games, vídeos clips e animação para celular, além do acesso às novas tecnologias digitais que barateiam e fazem com que um jovem possa realizar sua animação e finalizar em um computador simples, a animação entrou de vez na juventude, que enxerga também uma oportunidade de mercado de trabalho. Grande parte das empresas de produção de animação opera com equipe de jovens, hoje o Brasil produz uma grande quantidade de filmes de curta e longa-metragem, séries para TV, animações para comerciais, vídeos-games. Nossa produção atual além de muito diversificada em gênero e estilo também está espalhada pelo país inteiro, temos núcleos funcionado em São Paulo e Rio, também no interior de São Paulo, no Rio Grande Sul, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo em Minas, Brasília, Goiás, em Pernambuco, Bahia, Ceará, Maranhão, Rondônia e Amazonas.

Alexandre Lucas - Quais as dificuldades que você encontrou no início de sua carreira?

Lula Gonzaga - No início o maior complicador era de o país ter uma produção muito pequena, basicamente reduzida aos comerciais para TV e fixada exclusivamente no eixo Rio-São Paulo. A grande dificuldade de assistir os filmes de diferentes países como ainda acontece hoje. Não havia nenhum instrumento de fomento, como os editais que existem hoje.

No meu caso tive sorte pois em 1981 a CAPES/MEC acertou um convênio com a Embrafilmes para a parceria de um projeto de 3 bolsas de estudo para animação no exterior, 3 vagas para todo o país e eu peguei a vaga do Nordeste e fui estagiar na Croácia e República Checa o que me deu um outra dimensão do universo da animação no planeta.

Alexandre Lucas - Ainda consumimos muita animação de outros países? Como você vê produção de animação no Brasil e o monopólio da Mídia?

Lula Gonzaga - Claro, e sempre vamos consumir o desenho de outros países. A questão é que basicamente só consumimos a produção dos Estados Unidos da América e uma parte menor da produção comercial japonesa. Temos que abrir nosso mercado para a produção de todos os países, para que nossas crianças e jovens possam conhecer as diferentes culturas, isto é essencial. E para exibir as nossas produções, durante muito tempo, nem mesmo a turma da Mônica era exibida nas nossas TVs! Também é necessário abrir os espaços para a produção brasileiras nos cinemas e TVs para os outros países. Hoje a animação nacional está no mesmo nível de qualidade da produção dos países produtores mais avançados, as animações importadas geram bilhões de dólares, citamos por ex. Bob Esponja, no ano de 2008 rendeu 1 bilhão de dólares em licenciamento, com a venda de bolsas, sapatos, cadernos etc. O mercado não brinca em serviço! A discussão agora é cultural, pois trata da afirmação da nossa identidade como povo, de economia e tudo passa é claro por decisão política.

Alexandre Lucas - A circulação é um dos desafios para democratizar a produção de animação no Brasil?

Lula Gonzaga - É o nosso grande gargalo, como estamos completamente dominados pela engrenagem de distribuição nas grandes mídias optamos, por falta de força política, operar pela beirada, nos Festivais de Audiovisual, nos diversos projetos de exibição itinerantes, nas TVs públicas como a TV Brasil e a TV Cultura, nos Cines Clubes, nos Cines+Cultura, na Programadora Brasil etc. São muito importantes os meios de acesso a produção brasileira, mais ainda estamos muito longe de chegar aos grandes sistemas de comunicação.

Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?

Lula Gonzaga - Nosso trabalho sempre foi focado na cultura brasileira em especial nas regiões Nordeste e Norte, sempre trabalhamos com formação, produção e difusão. Toda nossa equipe é de jovens que foram formados no próprio projeto, todas as nossas oficinas sempre foram com jovens alunos das escolas públicas e as exibições do cinema itinerante ou de cineclube sempre priorizamos as cidades sem ou com muito poucas salas de exibição para comunidades sem acesso a este importante veículo de comunicação de massa e divulgação da nossa cultura.
Alexandre Lucas - A atual conjuntura política no campo da cultura tem contribuído para ampliar a produção e circulação do cinema de animação no Brasil?
Lula Gonzaga - Sim e muito, na era Lula / Gil estivemos no melhor momento da nossa produção e acesso à cultura, em especial com o programa Cultura Viva que tem como locomotiva os 2.500 Pontos de Cultura funcionando no país, nos diversos editais para a produção audiovisual, na SAV - Secretaria de Audiovisual - que incluiu editais específicos para animação e nos avanços dos Cineclubes, da Programadora Brasil e nos cinemas itinerantes
Alexandre Lucas - O Coletivo Camaradas realizará em 2011 a “Mostra de Animação Lula Gonzaga” o que isso representa para você?

Lula Gonzaga - O Nordeste do país, hoje tem uma importante produção de Animação que o público da nossa região ainda não teve a oportunidade de conhecer.

A Mostra que vamos realizar com o Coletivo Camaradas, será uma oportunidade para prestar contas a sociedade do que estamos realizando com os recursos públicos em nosso Ponto de Cultura, vamos apresentar como funciona o nosso processo de formação, de produção e de difusão do Cinema de Animação que atua nas regiões Norte e Nordeste, nesta Mostra apresentaremos um painel através da exibição dos filmes e vídeos produzidos no nosso projeto, buscando permitir o acesso a cultura cinematográfica, a informação, abrir novas oportunidades no mercado de animação, a troca de idéias e a busca de novas parcerias.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Lifanco – Um guerreiro da Nação Cariri



Compositor, músico e fundador do reisado Nação Cariri. Lifanco deve produzir em breve uma coletânea de músicas engajadas. Lifanco tem composições com artistas do Cariri como Fatinha Gomes, Luciana Dantas, Cacá Araujo e o musico paraibano Rangel Junior, além de várias outras parcerias.
Alexandre Lucas - Quem é Lifanco?

Lifanco - Uma pessoa do bem

Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?

Lifanco - Como musico aprendiz em 74, tempos de rock´s, baladas e leves blues que falavam de paz e de amor...que tempo !!!!

Anos 80 comecei a tocar em bandas, só a partir de 98 comecei a compor e cantar minhas vivências e também imaginações, pois ninguém é de ferro, né?!

Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?

Lifanco - Todas!! Ainda hoje tenho influências... Desde que passem pelo crivo critico da minha capacidade de sentir.

Alexandre Lucas - O que é música para você?

Lifanco - Tudo !!! A musica tem o poder tipo: moldar pensamentos e atitudes, por isso o cuidado meu e de outros artistas na qualidade do que faz !!

Exemplos ??!! Temos de sobra estão ai no ``mêi do mundo´´ o que se esta criando em termos de comportamentos tendo como meio divulgador a musica ??!! É brincadeira!!
Os que podem fazer alguma coisa preferem ficar em suas casas e mansões com os seus, ouvindo e assistindo o que acham melhor. Ao resto? Resta a pergunta : Será ?!!

Alexandre Lucas - Você tem composições em parcerias com vários artistas. Fale dessas parcerias.

Lifanco - Ressumo numa pequena frase : É o que sustenta a vida e me dar a alegria de vivê-la.

Alexandre Lucas - Você tem composições engajadas?

Lifanco - Sim, divulgadas ? Esta perto(espero).

Alexandre Lucas - O seu novo trabalho será uma coletânea dessas musicas engajadas?

Lifanco - Com certeza !! Aguardo paciente o que falta, não depende mais só de mim.

Alexandre Lucas - Como você analisa o cenário musical do Cariri?

Lifanco - Sobre apresentações musicais com os nossos artistas não sei se posso analisar, até porque saio muito pouco, se esta acontecendo alguma coisa, falta divulgação.

Alexandre Lucas - Qual a sua relação com a brincadeira do Reisado?

Iiihhh !!! A mais prazerosa e descontraída possível !! A gente vira criança! É um outro mundo !!

Fundamos o ``Reisado Nação Cariri´´ gravamos 02 cd´s que considero uma das coisas mais importantes na minha historia. Mas.... (tem sempre esse mas, né?) Por força da falta de força tivemos que parar.

Alexandre Lucas - Como você ver a participação dos músicos e interpretes do Cariri nos grandes eventos da Região?

Lifanco - Relação intima nenhuma rsrsrsrsr, temos eventos promovidos com outras intenções.

O trabalho dos nossos artistas deve ter uma boa estrutura financeira e estética pra poder ser mostrado aos que nos visitam, ficamos com um espaço quase que vergonhoso em expocratos, expoafres, berros e etc... Os artistas da região foram os pioneiros, hoje não são nem chamados, mesmo que seja pra se submeterem a uma seleção... Também pudera !! Então é isso (os artistas que falo são os que estão engajados num bem comum, que fazem um trabalho consciente, musical e poético) os que estão na midia (nada contra) não passam por esse tipo de coisa.

Valeu !! E viva a nossa guerrilha, o nosso coletivo camaradas, a Mostra Sesc de teatro, o nosso festival cariri da canção, a mostra sesc de musica, nossas terreiradas com seus mestres e mestras, nossos compositore(a)s, atore(a)s,poetas, poetisas e cantores e viva nossa cultura viva e pulsante nas veias dos pensantes e atuantes caririzeiros.

Alexandre Lucas - Quais são os seus próximos trabalhos?

Lifanco - Compor sempre que sentir ser necessário e gravar quando for possível.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Roberto Siebra - O ajudante de pedreiro que se fez doutor

Filho de merendeira e marceneiro, Roberto Siebra tem uma história de vida que orgulha os filhos da classe do proletariado deste país. Quando menino vendeu pão picolé, inventou de ser engraxate, já adulto foi ajudante de pedreiro e atualmente é professor doutor da Universidade Regional do Cariri – URCA. Siebra foi perseguido na sua juventude por causa da sua militância política e é uma das figuras históricas do Partido Comunista do Brasil na Região do Cariri por ter ajudado a construir o partido no período da semi-cladestinidade.

Alexandre Lucas - Quem é Roberto Siebra?

Roberto Siebra - Um rapaz nascido e criado no bairro do Seminário, no município do Crato, tendo uma bela vista do Sopé da Chapada do Araripe, filho de uma merendeira de escola pública e de um marceneiro, casal que criou seus 4 filhos de forma honesta e ética, ensinamentos estes que até os dias atuais tomo como guia nas ações que pratico no cotidiano.


Alexandre Lucas - Como teve início o seu contato com o Partido Comunista do Brasil – PCdoB?

Roberto Siebra - O meu contato foi no inicio da década de 80, quando na oportunidade participava dos movimentos de juventude existentes no nosso município. Naquele período o Brasil vivia os dias finais da ditadura militar, com grandes manifestações da sociedade civil e política participando de milhares de movimentos pela liberdade e pela democracia. Foi em um destes momentos que conheci o PCdoB, ainda na clandestinidade.

Alexandre Lucas - Você teve um trabalho importante na construção do PCdoB na região do Cariri, no tempo em que o partido ainda vivia na clandestinidade. O que foi ser comunista neste tempo?

Roberto Siebra - Lembro bem que neste período éramos obrigados a termos nomes falsos, o meu era Mauricio, e as reuniões eram feitas obedecendo a várias regras de segurança, entre as quais, a de nunca exceder o numero de três pessoas, não fazer anotações, não se reunir sempre no mesmo lugar, etc.

Foi um período muito difícil para mim, então com 17 anos, que tive que trocar vários prazeres da juventude, pela prática política semi-clandestina. Significou por um bom tempo ter que mentir para família (Ex. varias vezes tinha reunião em Fortaleza e ai dizia que íamos para um encontro religioso, uma viagem de ferias, etc.)

Significou também enfrentar um grande preconceito de pessoas e instituições, e como exemplo lembro um episodio que mim marcou profundamente, a solicitação, na época de pessoas da Igreja Católica exigindo que retirasse do movimento de juventude, pois isto podia prejudicá-lo, etc.

Outro exemplo marcante foi a minha expulsão do Colégio Agrícola do Crato, depois de ter sido arrombado o meu armário e retirado alguns pertences, entre os quais alguns documentos tidos como subversivos. Mas, nada disto nos tirava a certeza de que o novo sempre vem, como diz o poeta Belchior. E, poucos anos depois, pudemos comprovar isto na prática com o fim da ditadura militar e o retorno a um país democrático.

E como as coisas mudaram, sinto feliz em ter dado esta contribuição. Esta é a melhor coisa que tenho, é o meu bem mais precioso, que deixo aos meus filhos, meus netos e próximos da minha geração. Dizer-lhes e provar-lhes que ajudei a construir um país livre da opressão e da miséria, tarefa que ainda continuo até hoje e pretendo levar até os dias finais de vida.

Alexandre Lucas – Quais eram os desafios?

Roberto Siebra - O grande desafio da época era combinar o trabalho semi-clandestino com o trabalho legal, mas o grande trabalho era organizar o combate a Ditadura Militar, daí tínhamos uma grande participação no movimento secundarista e de bairros.

Alexandre Lucas – Você vem da classe operária e teve uma vida sem facilidades. Antes de receber a titulação de doutor foi servente da
construção civil.

Roberto Siebra - Desde cedo aprendemos a lição reservada aos filhos das classes pobres – TRABALHAR. Comecei vendendo pão, depois picolés e até, sem muito sucesso tentando ser engraxate. Depois fui contratado por uma construtora para trabalhar nas casas populares, inicialmente como servente e depois, por conta de algumas facilidades, ascendi para apontador. Infelizmente esta carreira na construção civil durou pouco, pois ao descobri que tinha uma militância política e na obra estava tentando sindicalizar alguns funcionários, fui demitido.
Consegui emprego junto aos trabalhadores em transportes rodoviários, passando a atuar especificamente no sindicato dos trabalhadores desta categoria por um longo tempo, e ao sair fui ser Agente de Saúde no Crato, sendo posteriormente conduzido ao Sindicato Estadual dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde.

No decorrer da minha vida sempre mim virei para conseguir trabalho, mas o que é fundamental que nunca larguei os estudos. Mesmo tendo que trabalhar, conclui a minha graduação em História na Faculdade de Filosofia e fiz duas especializações na UECE, o que mim qualificou a trabalhar inicialmente na URCA como professor colaborador sendo contratado como professor efetivo, em decorrência de ter passado no primeiro concurso publico promovido por esta instituição. Foi uma das maiores alegrias da minha vida e da minha família.

Dentro da universidade, e com muita dificuldade lutei para conseguir galgar a patamares maiores. Afirmo com orgulho que eu sou um destes casos excepcionais numa sociedade como a nossa que reservou os melhores lugares sociais, políticos e econômicos, para as classes dominantes e abastardas. Imaginar que uma pessoa que teve a minha origem e história chegar a um dos maiores títulos acadêmicos em uma universidade brasileira – SER DOUTOR.

Alexandre Lucas – Essa sua trajetória é marcada por momentos difíceis?

Roberto Siebra - É verdade, aminha vida não foi nem é fácil. O importante nisto tudo é como enfrentamos e resolvemos estas dificuldades e tomei a decisão de enfrentá-las através de muito trabalho, de ser sincero, honesto e ético. Principalmente de nunca esquecer minha origem e em especial o esforço que o meu pai e mãe (Cristovão e Altina) fizeram para chegar aonde cheguei. Sem meus genitores, não estaria onde estou hoje e a eles dedico todas estas conquistas.

A esta trajetória gostaria de tirar uma lição aprendida na prática, por mais difícil que seja a vida, podemos conseguir sair vitorioso, mas isto significar ir a luta e não só ficar em casa se lamentando ou criticando os outros. Eu sou a prova viva disto.

Alexandre Lucas – Antes você ajudava a construir prédios e hoje ajudar a construir consciências?

Roberto Siebra - Esta é maior tarefa que existe e que enfrento. Construir consciências é um prédio muito difícil de levantar, até porque nunca estará concluso, sempre terá um andar para subir, o que exige um cotidiano de práticas e compromissos. Na construção das consciências existem dois fatores importantes, de caráter objetivo e subjetivo. O primeiro está relacionado como a pratica da educação formal e informal e o fator subjetivo engloba outras situações, muito difíceis de enfrentar numa sociedade onde o valor supremo é o dinheiro e o poder material, em detrimentos de outros valores éticos e morais transformados em moeda de troca no mercado de ações capitalistas.

Construir consciência significa construir um novo mundo calcado em valores supremos de dignidade e respeito aos valores fundamentais dos seres humanos. Significa em primeiro lugar acabar com a fome a miséria da maioria de nossa população.

Alexandre Lucas – O que significa a educação para você?

Roberto Siebra - Um passo importante, mas não o único, para iniciarmos o processo da construção de nossas consciências, um aliado fundamental para darmos dignidade a pessoa humana, e um instrumento valiosos na construção de uma ova sociedade. Não podemos prescindir do papel da educação como essencial no processo de produção e transformação das riquezas materiais, ou melhor dizendo, alavanca fundamental no avanço das forças produtivas e conseqüente mudança das relações sociais.

Alexandre Lucas – Existe uma crença de que a educação fará a revolução. Você acredita nisso?

Roberto Siebra - Não acredito que educação faça revolução até porque se isto fosse verdade os professores seriam agentes altamente revolucionários e aqueles que tem mestrado e/ou doutorado seriam seus lideres. E a realidade é bem diferente, pois a história mostra que este segmento nunca foi capaz de avançar ou liderar processos revolucionários significativos, ficando sua participação política restrita a lutas especificas, como melhoria salarial, etc.

É bem verdade que a educação formal pode ser um componente importante no processo de transformações de uma sociedade, mas se isto for acompanhado de um processo de conscientização política que ocorra em outras arenas da vida.

Alexandre Lucas – Qual o seu papel enquanto professor?

Roberto Siebra - O mesmo que tinha quando estava na fabrica, contribuir para a construção de um mundo melhor. Não mudou nada o fato de ser professor no que diz respeito ao meu papel, só o terreno da prática, pois é mais difícil ser professor universitário do que ser operário. O palco é diferenciado com grande predominância da vaidade e da falta de humildade, fatores que impedem que vejamos as outras categorias como parceiras e que exercem um papel fundamental na construção de uma nova realidade


Alexandre Lucas – O índice de analfabetismo em Cuba é baixíssimo. Quando você esteve em Cuba pode perceber diferenças no sistema educacional brasileiro?

Roberto Siebra - Tenho viajado muito, Europa, América Central e mais recentemente vários países da América Latina e isto mim fez ter muito cuidado na hora de fazer avaliações sobre as realidades especificas de cada país. São contextos históricos, sociais e políticos completamente diferentes dos nossos e temos que levar isto em consideração sob pena de cometermos erros de avaliação.

O caso cubano é mais complicado porque temos que levarmos em consideração um fator importante na construção histórica deste país, refiro-me a tentativa deste povo construir uma nova sociedade diferente daquela que estamos acostumados e que tem como base a mercantilização das relações. Isto é diferente e vai de encontro a falsa realidade que permeia a maioria da humanidade construída principalmente pelas classes dominantes dos grandes países imperialistas modernos, especialmente os Estados Unidos.

Não precisamos aqui fazemos nenhuma apologia a realidade cubana, pois os dados estatísticos referentes a conquistas sociais, nos quais está inserido a educação, são provas cientificas da vitalidade do sistema e dos grandes avanços conseguidos por este povo. É bem verdade que existem grandes problemas a serem enfrentados e vencidos e isto tem sido uma pratica cotidiana deste povo.

Alexandre Lucas - O seu doutorado é em Sociologia e sua tese tem como título: Os subterrâneos do poder: corrupção e instituições de controle no Estado do Ceará. O que você pode concluir a partir desta pesquisa?

Roberto Siebra - São varias as conclusões, mas especialmente, no que se diz respeito a corrupção podemos afirmar que é um fenômeno histórico, datado e não natural como afirma o senso comum. Isto significa dizer que esta pratica política, assim como teve inicio pode ter fim.

A corrupção é uma prática política de poder relacionada às elites dominantes que sempre a usaram como forma de manter os seus privilégios, motivo pela qual persistem nas instituições governamentais.

Outro fator importante diz respeito a relação entre corrupção e democracia, na medida em que esta ultima pode ser um antídoto poderoso para combater esta pratica ilícita.

Alexandre Lucas – No final do ano passado você vez uma aventura pela America Latina que lembra o revolucionário Ernesto Che Guevara. Como foi essa experiência em conhecer os países vizinhos como mochileiro?

Roberto Siebra - Estive recentemente na Bolívia, Peru, Chile e Argentina, conhecendo estes lugares, seu povo e historia de uma forma que lembra Guevara.Mas apesar de ter adotado a mesma forma de conhecimento, isto é, usar meios alternativos para esta aventura, nunca tive a presunção de imitar o comandante, até porque isto seria impossível, por vários motivos. Foi uma viagem de conhecimento, já que tive acesso a povos, culturas e costumes em tempo real, sem intermediários, vivenciando o cotidiano de nossos irmãos latino americanos. Isto é fundamental para o aprendizado de um cientista social de profissão e de coração que acredita que a busca do conhecimento tem que ter dois pilares inseparáveis: a teoria e a prática.

Todo este roteiro foi feito a pé, de bicicleta e de ônibus, seguindo um projeto que foi pensado por cerca de 10 meses e que foi finalmente concretizado, com todos os percalços que uma empreitada desta pode oferecer, inclusive risco de vida. Certamente foi uma das maiores aventuras de minha vida e mim impulsionou a transformá-la numa rotina a ponto de esta já planejando uma próxima

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Daniele Esmeraldo – Quando a gestora é uma artista



A coreografa e bailarina Daniele Esmeraldo a frente da Secretária da Cultura, Esporte e Juventude possibilitou uma nova dinâmica na gestão de políticas públicas e de eventos na cidade do Crato. Com apenas cinco anos ela conheceu o universo das artes e uma das pioneiras na dança contemporânea na Região do Cariri.


Alexandre Lucas - Quem é Daniele Esmeraldo ?

Daniele Esmeraldo - Cratense,orgulhosamente.Sagitariana,nascida em 03 de dezembro, mãe aos 14, de duas filhas encantadoras,filha de pais inigualáveis, descendente da Família Esmeraldo, da qual tenho muito orgulho. Não me considero nenhuma intelectual; Mas idealista, persistente, que gosta de criar e realizar; Tenho na minha essência o amor pela arte, pela dança,e a ela, minha gratidão por muito do que sou hoje. Muitos desafios e obstáculos vencidos, numa sucessão de acontecimentos, que engrandeceram minha forma de ver e viver a vida!!! Hoje tenho uma missão maior, de cuidar, e proporcionar o bem-estar material e espiritual de muitas pessoas; Bailarina, coreógrafa, diretora, produtora, pedagoga, professora, que disseminou a dança na região do cariri, e na educação, inovou com a Dança na Escola, através da arte-educação, utilizando a arte e o lúdico como meio facilitador da aprendizagem cognitiva.

Atualmente, gestora com muita honra e mais responsabilidade ainda, de uma pasta fascinante, que é a Secretaria da Cultura, Esporte e Juventude do Crato, que em muito me dá prazer em geri-la, mesmo que ainda com algumas limitações.... mas, quando a gente ama, a gente cuida!E eu amo a Arte, a cultura e a vida!

Sou uma pessoa que busca no dia-a-dia, o aprimoramento e a elevação espiritual, tendo sempre em mente, o princípio“ O Espírito é o principal, a Mente obedece e o Corpo acompanha, além de trazer para bem perto de mim, o treinamento da gratidão, humildade e obediência, buscando caminhar pelos trilhos e pelos caminhos que me levem a aproximar-me cada vez mais de Deus! Sou feliz, porque amo e me sinto amada!

Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?

Daniele Esmeraldo - Enveredei pelo caminho da arte, aos cinco anos iniciando com aulas de acordeom. Um ano depois fiz aula de piano, canto coral, no tão mágico Pequeno Coral, da Sociedade de Cultura Artística do Crato. Paralelamente e felizmente, iniciei meus primeiros passos aos 6 anos, com aula de ballet, jazz e sapateado, na Academia de Danças Silvia, a Pioneira da região, minha grande mestra! Aos 13, assumi a direção de um espetáculo, no dia do ensaio geral, em substituição à minha diretora, Silvia, que saiu para cuidar de sua filha que estava prestes a dar a luz!! Aquela foi a minha primeira experiência em direção.... Imaginem, uma menina, dirigindo mais de 200 bailarinos entre crianças e adultos, iluminadores, cenógrafos, sonoplastas.... kkkkk, ainda bem que deu tudo certo! A minha primeira Academia foi criada aos meus 16, em Barbalha, e aos 17, A Corpo e Movimento se instalava no Crato, com o apoio incondicional dos meus queridos pais, que acreditou no meu trabalho. Durante mais de 11 anos, foram desenvolvidas atividades na área de dança, teatro, produções artísticas e culturais. Foi também, nessa época que se deu o início do Grupo de dança Corpus x Corpus.

Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?

Daniele Esmeraldo - Os primeiros passos me foram ensinados pela Pioneira da dança no Cariri, Inês Silvia, na trajetória de 12 anos de aula, eu passei por vários mestres, como Vera Passos, Lucinha Machado, Cláudia Pires, Mário Nascimento, Valéria, hoje da Cia. Vatá( sapateado) e na pesquisa e inspiração, claro a magnífica Pina Baush,Rodolflaban, Débora Colker, Grupo Corpo, kaiser Cia. de Dança.



Alexandre Lucas - Fale da sua trajetória?

Daniele Esmeraldo - Como já citei acima, iniciei minhas primeiras experiências profissionais aos 15, em Barbalha, com a criação da Academia Som e Fantasia, durante um ano....esse foi um dos períodos que mais me esforcei para me especializar e profissionalizar. Há, mais antes disso, já dava aula na Academia que estudava, para alunas de Baby Class.Com 12 anos, já ganhava meus primeiros trocadinhos. Em 1988 inaugurei no Crato a Academia Corpo e Movimento, realizando 11 Festivais de Dança, nas categorias infantil e adulto, somando na verdade não 11, mas 22 espetáculos.... pois, eram 2 atos em 1. Ballet, Jazz,Dança Cigana, Mambo, anos 60, sapateado, Contemporâneo, foram ritmos que fizeram parte do nosso conteúdo e que se espalharam pela cidade, não só nos Festivais, mas em desfiles, aniversários, e eventos sociais, dançando inclusive na EXPOCRATO, num momento de intervenção inédita, quando a dança contemporânea, invadiu a maior festa popular, atraindo os olhares do público, que parou pra observar, aquela arte não muito conhecida ainda. Foi uma grande experiência. Passei mais ou menos, três anos para conquistar o reconhecimento do meu trabalho, por ser muito nova, as pessoas não acreditavam muito na minha capacidade. Dançávamos em chão batido, coreografava de graça, sem remuneração nenhuma... mas sempre lembrando ao grupo de bailarinos, que um dia poderíamos ser reconhecidos! Hoje, já posso me orgulhar dessa trajetória, e dizer que os conhecimentos adquiridos ao longo das experiências vividas, em sua maioria, me foram oportunizado pela dança. Todo o esforço sincero em contribuir para a cultura da minha cidade, talvez tenha repercutido na escolha do Prefeito Samuel Araripe e da primeira dama Mônica Araripe, em me confiar a gestão da Secretaria da Cultura, Esporte e Juventude, o que me enche de orgulho, pois, como filha do Crato, sei do grande potencial e celeiro cultural, que está sob nossa administração. É muita responsabilidade também!

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?

Daniele Esmeraldo - Vendo política como um caminho para a idealização, construção e realização de ações para o bem comum de um povo, ou de um determinado grupo social, e vendo um politico como aquele que tem a vocação para cuidar de um coletivo, e fazendo um paralelo da política com a arte, vejo que através dela, se manifesta desejos, se busca o equilíbrio, se encanta a vida, ideias são externadas, vidas são mudadas. Por tudo, a arte também é um majestoso caminho para transformar, propor, insultar e até mesmo denunciar. A arte não pode ser mais tão subjetiva, creio que devemos usar os palcos, a música, as telas e telões, também como uma ferramenta de mudar e transformar o mundo. Como vejo ainda, o artista como um grande político, que acopla pessoas, através do seu talento, sendo o grande gestor de sua arte.

Alexandre Lucas - Hoje a dança contemporânea está bastante difundida. Você foi uma das pioneiras neste estilo de dança no Cariri. Fale deste trabalho.

Daniele Esmeraldo - Quando iniciei as aulas de ballet, me sentia presa, aos passos que só doíam, mas que foram estritamente necessários para a técnica e o aprimoramento dos movimentos da dança. Logo veio o jazz, que já era mais solto, mas o que me encantou mesmo foi poder aproveitar e utilizar a técnica do ballet, os passos soltos do jazz, juntamente com o início do trabalho de próprio de percepção e criatividade que a dança contemporânea nos remete. Inspirei-me e estudei as técnicas desse estilo inovador, tendo a grande Pina Baush, como responsável pela minha afinidade ao contemporâneo, estilo esse, que nos faz interagir consigo e com o nosso meio. E para estreitar ainda mais a grande relação com o contemporâneo, vale ressaltar, tive o grande privilégio e a grande honra, de dançar em terras cratenses, no auditório da URCA, para Ela, Pina Baush, a maior sumidade da dança contemporânea do mundo, em sua visita ao Cariri, é mole?. Um presente proporcionado por meu mestre, doutor, Fábio Rodrigues, à nossa Companhia o Grupo CorpusXCorpus, com o espetáculo Beatos. E hoje o contemporâneo invadiu o mundo, e como não o Crato, o Cariri.

Alexandre Lucas - A dança contemporânea exigi um estudo da realidade?

Daniele Esmeraldo - O contemporâneo busca aproximar o homem sim da sua realidade.Foi com a idéia de estreitar o relacionamento do homem com o mundo, de vivenciar, sentir e se autodescobrir, que se iniciou essa maravilhosa forma de dançar. A dança contemporânea não se define em técnicas ou movimentos específicos, pois o intérprete/bailarino ganha autonomia para construir suas próprias partituras coreográficas a partir de métodos e procedimentos de pesquisa como: Improvisação, Contato Improvisação, propriocepção, Método Laban, Técnica de Release. Esses métodos trazem instrumentos para que o intérprete crie suas composições a partir de temas relacionados a questões políticas, sociais, culturais, autobiográficas, comportamentais, cotidianas como também a fisiologia e anatomia do corpo. Cabe ao coreógrafo, como acontece com todo artista, descortinar sua criação, traduzindo através do movimento, os seus sentimentos e a sua visão de mundo.

Alexandre Lucas - Você costuma dizer que antes de ser Secretária é artista. Qual a importância de uma artista assumir uma Secretária da Cultura?

Daniele Esmeraldo - Lembro-me, ao me levantar para produzir meus Festivais, quando eu exercia quase todas as funções, de coreógrafa, professora, bailarina, diretora, produtora (divulgação, captação de recursos)o quanto eu sentia dificuldades para conseguir recursos. Muito chá de cadeira, muitos nãos.Todos os pingos de suor, se distribuíam pelas salas de ensaio e respingavam no interesse dos patrocinadores em apoiar os Festivais..... salve os empresários da época. Sempre tive o cuidado de me colocar na situação daquele que está ali do outro lado da mesa, que tanto foi e será o lugar no qual estive e estarei. Valorizar cada arte, dar a real importância que merece nossos artistas, e saber que nós somos pessoas perseverantes e que batalhamos muito ainda para realizar uma determinada obra, são sentimentos que me norteiam na forma de conduzir o meu trabalho como gestora da Cultura.

E é com esse sentimento de reconhecer o grau de valor que tem a nossa cultura, em toda sua diversidade, que tento, juntamente com o nosso gestor maior, atender às necessidades dos nossos artistas e da nossa Capital da Cultura, fazendo jus ao seu nome, e me esforçando para dar não o mínimo para o artista, mas o nosso máximo em apoio, estrutura, atenção e valorização. Creio que a nossa sensibilidade e vontade de acertar é maior do que os obstáculos enfrentados!

Alexandre Lucas - Quais os principais desafios a frente da Secretaria?

Daniele Esmeraldo - A resposta não é de se surpreender, recursos, recursos e recursos. Existe uma previsão orçamentária, pelo fundo geral do Município, que não quer dizer, que necessariamente existe o recurso. Somente, com os recursos da Prefeitura, fica inviável promover a cultura, em todos os seus segmentos. Precisamos de muita criatividade e muita dança, para conseguir executar os projetos. Apesar de ter um gestor, que valoriza e acredita no valor e na importância da nossa Cultura, ainda assim, é muito difícil!

Alexandre Lucas - Quais os avanços?

Daniele Esmeraldo - Bom, em princípio, não existia no Crato uma pasta específica de Secretaria da Cultura, bem como Conselho de Cultura, nem Lei Municipal de Incentivo á Cultura, nem Fundo Municipal. Hoje o Sistema Municipal (Secretaria, Conselho, Fundo Municipal) já está legalizado e em pleno funcionamento. Realizamos duas Conferências Municipais, acreditando plenamente no valor de uma gestão participativa, cujo resultado se deu com a elaboração do nosso Plano Municipal de Cultura. Pensando em promover,dar continuidade e fortalecer, vários projetos de políticas públicas foram criados e desenvolvidos, como a EMMA (Escola de Música maestro Azul), cujos frutos já se podem ser reconhecidos, através da Banda Mirim do Crato. A Casa Harmônica (Núcleo de Projetos Sócio-Culturais), idealizados pela Primeira Dama Mônica Araripe,que desenvolve projetos de inclusão e formação cultural, com a participação de mais de 500 crianças, nas áreas de Dança e Teatro, culminando estas na criação da EMCART( Escola Municipal de Cultura e Arte), realizadas no Teatro Municipal, e aulas de Artes Plásticas, Incentivo á leitura e ao desporto. O Festival Cariri da Canção, hoje a maior festa da música que acontece na Região do Cariri. O apoio incondicional à Cultura Popular, que é o que a gente tem de mais rico nessa terrinha cratense. Vários eventos com cunho educacional, histórico, pesquisa, inclusivo e de tradição, são realizados anualmente, como o Desfile das Virgens,Chapada Viva do Araripe,O Abriu Pra Juventude,Cariri Cangaço, Festival Folclórico e Doce Natal,todos eles acontecem com o intuito de aprimorar conhecimentos, difundir, divulgar, valorizar, fazer intercâmbio entre atores, artistas, mestres, músicos, historiadores, crianças e adolescentes. No setor de Museus, foram restauradas as valiosas obras sacras e uma grande parte das Obras de arte, no Museu Histórico e de Arte Vicente Leite. Além de termos o Centro Cultural do Araripe, com a Budega Cultural, O Café Maria Fumaça, A Biblioteca Municipal, e a Galeria de Artes, formando o maior complexo cultural da região, sendo este, nossa casa, nosso palco, nosso chão, nosso teto, onde tudo acontece, um lugar onde se respira a mais pura arte. Alexandre Lucas - O que ainda precisar ser feito para avançar nas políticas públicas para a cultura?

Daniele Esmeraldo - Algo muito importante, creio que a implantação de uma política de Edital própria do Município para que possamos democratizar o acesso aos recursos. Realizar Fóruns, para sensibilizar as pessoas Físicas e Jurídicas para se tornarem amigos da Cultura, fazendo suas doações, patrocínios, para o Fundo Municipal de Cultura. É de extrema importância também, realizarmos ações , ampliarmos e fortalecermos os projetos já desenvolvidos pela Secretaria, descentralizando-os, atingindo não somente na Sede, mas nos bairros mais distantes e nos distritos do Crato, apesar, de já realizarmos algumas ações neles. Ah! Vamos lutar também por nossa sala de Cinema.

Alexandre Lucas - O Ministério da Cultura avançou em termos de ampliar, consolidar e descentralizar recursos públicos para cultura. Você acredita que isso repercute nos Municípios?

Daniele Esmeraldo - Claro que sim. Gilberto Gil, Juca Ferreira, ambos Nordestinos, foram nossos grandes defensores, no que diz respeito á descentralização dos recursos federais, tendo em vista que a fatia maior ou quase todo o bolo de recursos sempre ficavam lá pras bandas do sul. Espero que essa política democrática, com a nossa nova Ministra Ana Buarque, possa dar continuidade e avançar mais ainda. E agora temos mais uma esperança de tempos melhores. Com a aprovação do Sistema Nacional de Cultura, que prevê o repasse de recursos de 2% União –1,5% Estado – 1%Município, que com certeza nos assegurará uma condição maior para a execução de Projetos e Políticas Públicas na nossa Cidade.

Alexandre Lucas - Quais os próximos trabalhos da Secretária?

Daniele Esmeraldo - A nossa prioridade hoje, além de dar continuidade e melhorar todos os projetos já desenvolvidos por essa Administração, é a modernização e aquisição de equipamentos para os Espaços Culturais. Teatro Municipal, Biblioteca Municipal, Auditório do Centro Cultural do Araripe e Museus. Estamos formatando um projeto para trazer o Museu de Arte para a galeria do Centro Cultural da Araripe. E logo, logo, estaremos inaugurando a nossa Rádio Cultural do Araripe, que funcionará no Bairro Alto da Penha, com o programa Alô Rabo da Gata, que será conduzido por crianças e adolescentes daquela localidade. É imprescindível, termos esses espaços em pleno funcionamento, até porque, eu também quero usufruí-los, durante e quando não mais estiver ocupando o cargo de Secretária.

Alexandre Lucas - Quais os seus próximos trabalhos artísticos?

Daniele Esmeraldo - Muitas pessoas me param na rua e me indagam a volta dos meus Festivais, talvez elas não estejam acompanhando de perto, e o quanto eles ainda estão acontecendo, e estão muito mais vivos, com o Doce Natal, que é um espetáculo de Arena, a céu aberto, com mais de 200 crianças a cantar, dançar e interpretar. Esse momento ímpar, é também uma grande oportunidade de praticar e propagar a minha dança, junto á crianças dos quatro canto da nossa cidade. Se amar é viver, eu danço a vida. Não consigo sem a dança. Estamos voltando, através da Cia. Municipal Crato de Dança, Cia. Cultural do Cariri e Cia. Mi de Dança, com a produção de alguns espetáculos que já estão em fase de elaboração e criação... Pra materializar, espero que sua entrevista dê sorte Alex (Alexandre Lucas), gostaria de ter condições de estrear ainda esse ano, o Bárbara Mulher (Espetáculo Solo), Caldeirão (Espetáculo de Arena in loco), Mi- (Duo), e aindaRFFSA e Cia.





domingo, 6 de fevereiro de 2011

Fabrício Skinny – Ativista da palavra rimada e politizada


Ex-integrante do Grupo Relatores, Fabrício Skinny é um dos MCs da Região do Cariri que tem contribuído para a difusão do Rap e incluído novas roupagens ao estilo musical. Acadêmico do Curso de Artes Visuais e integrante do Coletivo Camaradas, Fabrício acredita que uma das funções da arte é politizar a população.

Alexandre Lucas - Quem é Fabrício skinny ?

Fabrício Skinny - Um cara tranqüilo que gosta de coisas simples, que respeita a vida e tenta aproveitar as melhores coisas que ela proporciona, Mc e filho de Deus.


Alexandre Lucas -
Quando teve inicio seu trabalho artístico?

Fabrício Skinny - Acho que com uns cinco anos de idade, em vez de brincar com os brinquedos de plástico, preferia fazer uns personagens animados com aquelas massinhas de modelar,naquela época nem sabia o que era arte nem pra quer servia,apenas criava e me divertia,nessa idade também desenhava constantemente inspirado pelos cavaleiros do zodíaco...rsrs um grande clássico da minha geração quem já assistiu sabe do que eu estou falando.

Alexandre Lucas - O que despertou seu interesse pelo Hip-hop?

Fabrício Skinny - Quando eu tinha uns dez anos de idade assistia a aqueles filmes americanos que contava histórias sobre os guetos e a trilha sonora sempre era Rap, mas eu nem sabia do que se tratava e nem entendia nada do que aqueles caras estavam cantando, mas gostava da batida e tentava imitá-los,aí quando eu estava cursando o primeiro ano do ensino médio no Colégio Polivalente de Juazeiro do Norte,aconteceu um evento escolar relacionado a cultura onde se apresentou um grupo de rap da cidade,quando eu vi,escutei e entendi o que aqueles caras estavam cantando eu fiquei pasmo com a força que essa música tem,ela passa uma energia e idéias livres que é difícil encontrar em outro gênero musical,é muito forte desde esse dia inventei de escrever rap.

Alexandre Lucas - Como foi os seus primeiros trabalhos como MC?

Fabrício Skinny - Péssimos... rsrs,minhas primeiras letras eram horríveis eram tão horríveis que eu escrevia pra mim mesmo pois tinha vergonha de mostrar para outras pessoas,a minha sorte foi que eu não parei de escrever e me apaixonei pela cultura e fui buscando o conhecimento e escutando outros tipos de música,me interessei pela leitura e comecei a ter um pensamento “revolucionário” parei de assistir bobagens,aí a evolução aconteceu naturalmente,entrei em um grupo chamado Coringas mc’s e fiz uma participação em uma faixa do segundo cd do Relatores onde fui convidado a fazer parte do grupo,onde foi minha verdadeira escola, aprendi técnicas de rimas,métrica,flow e postura de palco,devo uma boa parte do que sei a essas pessoas que passaram na minha vida e fortaleceram minha caminhada,e no final deste ano resolvi me afastar do grupo mas mantenho contato e a amizade com todos .

Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?

Fabrício Skinny - Fora do rap: Tom Zé,Caetano Veloso,Jackson do pandeiro, Seu Lunga,Chico Science, Seu Madruga,Planet Hemp,Chris Rock,Will Smith ,Patativa do Assaré,Os Simpsons,Cartola e Bruce Lee e dentro do rap são Black Alien,Quinto andar, Oficina da Rima,SP Funk,Rza,Valete,Crioulo Doido,Inquilinus,Jay-z,Cachaça Crew e Shawlin.

Alexandre Lucas - No Cariri vem crescendo a quantidade de grupos de RAP?

Fabrício Skinny - Sim vem crescendo, mas ainda é muito pouco, ter um grupo de rap é difícil, pois você tem quem investir em equipamentos caros como picapes, e investir em você também. Sem contar que o rap é boicotado na rádio, TV e na mídia em geral, mas os grupos são fortes, é como diz uma frase “Se fosse fácil num era rap”.bola pra frente!

Alexandre Lucas - Existe uma tendência no Cariri de incluir nas letras e nas músicas questões relacionadas a cultura popular?

Fabrício Skinny - Sim, e essa tendência é muito importante tanto para o rap quanto para a região do Cariri,pois esse estilo de rap, base,rima,e assunto só existe aqui. É uma coisa natural é a identidade do nosso rap, o sotaque as gírias, os samples, o estilo dos beat makers são totalmente autênticos,nós não precisamos imitar ninguém,cada lugar tem sua característica e ela deve ser preservada mas sempre com verdade,não adianta também fingir que sou “cabra da peste” sem ser,se for mesmo tá beleza eu considero,é preciso ter verdade acima de tudo.

Alexandre Lucas - O movimento Hip-hop sofre discriminações?

Fabrício Skinny - Sim, a primeira discriminação vem de casa, lembro que quando comecei a escrever rap e ensaiar em casa, minha mãe falava que era música de bandido, com o tempo ela percebeu que não era bem assim,existe uma distorção muito grande até pelos próprios artistas, tem pessoas que pensam que pra você poder ser um rapper você tem que ser negro,morar numa favela e ter antecedentes criminais,movidos por estereótipos e o pior é que muitos mc’s aceitam isso,o Hip Hop sofre discriminação porque ele vem mostrar para as pessoas o que elas não querem ouvir.

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?

Fabrício Skinny - A política é nosso alvo e a arte é a nossa flecha,mesmo não gostando de política devemos ser politizados e saber o que está acontecendo senão vamos ser manipulados novamente,e com a arte podemos politizar a população.

Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?

Fabrício Skinny - Eu tenho a intenção de despertar as pessoas para algumas coisas que existe e elas não enxergam, falar de um assunto sério de forma divertida para que a mensagem possa chegar a elas de forma agradável.

Alexandre Lucas - O que é RAP para você?

Fabrício Skinny - Rap pra mim é um estilo de vida, uma ideologia, uma cultura, um tratamento, um vício, é a minha doença e a minha cura para os dias insanos, é minha religião, meu castigo e meu abrigo.

Alexandre Lucas - Quais seus próximos trabalhos?

Fabrício Skinny - Estou começando a gravar algumas faixas para um EP que pretendo lançar e estou com alguns projetos paralelos com alguns Mc’s e Beat makers,vai ter grandes novidades esse ano.

Alexandre Lucas - Como você ver a atuação do Coletivo Camaradas junto ao movimento Hip-hop?

Fabrício Skinny - Acho bastante importante pelo fato do Coletivo ver o hip hop como uma arte em movimento e dá espaço para esta manifestação,não somos só artistas somos ativistas,o povo unido tem o poder. Parabéns ao Coletivo Camaradas pela coragem de manter a cultura viva!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Leo Dantas – A inquietação documentada

O Cariri é um caldeirão que faz ferver e emergir a diversidade cultural e a produção artística. Leo Dantas é fruto desta efervescência como muitos artistas da região. Leo vem se dedicando nos últimos anos a uma das suas principais inquietações uso das tecnologias, em especial as de fácil manuseio para registro audiovisual e produção de documentários.

Alexandre Lucas - Quem é Leo Dantas?

Leo Dantas - Sou alguém muito sensível a tudo e a todos, forte, bravo, guerreiro e desbravador, idealista, pensador e viajante de um mundo moderno, penso sempre a frente do meu tempo e das pessoas que me cercam, adoro tecnologia e amo a natureza.
Sou empresário do ramo audiovisual, produtor, artista visual, documentarista e desenvolvo oficinas de cunho social para pessoas de 10 a 90 anos.
Sou acima de tudo um sonhador que acredita em seus sonhos, e assim tudo se realiza.

Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?

Leo Dantas - Sou produtor desde meus 14 anos, sendo assim há exatos 16 anos, desenvolvi ao longo deste período formas artísticas de produção, tornando-me também artista visual e produtor audiovisual, então posso dizer que comecei há muito tempo, tendo em vista minha vasta produção artística.

Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?

Sou meio diferente dos artistas em geral, sou muito quebrador de regras, creio que influências para mim são meio esquisitas, curto de tudo um pouco, busco na verdade minha influência na natureza, nas pessoas e não nos livros, sei que deveria ler mais, mas sei que o que leio me serve muito mais do que vários livros que todos lêem.
Curto muito Glauber Rocha e tenho artistas amigos nos quais busco inspiração, ontem mesmo vendo um documentário muito bacana percebi que algumas imagens se pareciam com as minhas, fiquei muito feliz quando vi que o diretor e roteirista era o cineasta e amigo não tão próximo Jefferson Albuquerque Junior, então posso dizer que devo ter influências dele, mesmo sem tantas pretensões, mais percebi aspectos de nossa produção muito parecidos.


Tratando-se da fotografia, falo da amiga do coração Nívia Uchôa, figura que cativo, além de amigos como Zé Diogo e Diamantino Jesus, ambos de Portugal, falo também do artista multimídia e grande amigo Luiz Duva, vai ai uma dica pra quem não conhece, vale a pena conferir o trabalho deste artista multimídia e grande amigo reconhecido em todo o mundo: www.liveimages.com.br.


Falo agora do trabalho do grande amigo Bulhões Jr. um dos maiores cinegrafistas do Brasil, que sempre me dá altas dicas e idéias e não poderia deixar de citar a influência no trabalho social que recebo do grande amigo Alexandre Lucas, que através de seus projetos sociais me excita a também produzir para o povo, pois arte deve ser feita pelo e para o povo.


Tenho influências também de artistas como Sebastião Ribeiro Salgado, pela insistência em fotografar o ser humano e seus aspectos, algo que também vejo muito na Nívia, adoro a natureza e as possibilidades visuais que elas nos revelam então creio ter influências do Araquém Alcântara, considerado o maior fotografo de natureza do Brasil, e pra finalizar não poderia deixar de citar minha influência tanto audiovisual como fotográfica e de vida mesmo em todos os grandes mestres de cultura que já trabalhei, acho que posso dizer todos, pois correria o risco de esquecer algum nome.

Alexandre Lucas - Fale da sua trajetória?

Leo Dantas - Minha trajetória se confunde com meu crescimento, desde os cinco anos de idade fazia aulas de esculturas em argila com um antigo amigo da família chamado Barros, nunca fui muito bacana nesta área, comecei produzindo aos 14 anos micaretas na região, quem não se lembra do Cariri Folia, então aos 16 anos montei minha primeira empresa produtora junto com dois sócios, realizávamos eventos temáticos e voltados a música eletrônica, fizemos muitos eventos na região do Cariri, então transformei-me em Dj pela paixão a e-music, toquei muito, por todo o estado até os meus 23 anos, ainda toco em festas privadas, muito particularmente, cheguei a ser Dj residente em casas noturnas da capital como a antiga Aluá, Docas Bar e Café Teatro, de onde também fui promoter da casa, realizando cerca de 20 eventos temáticos, comecei então a trabalhar como produtor cultural para o SESC, onde trabalho como freelancer há 10 anos, juntei todas as experiências adquiridas para desenvolver meu trabalho visual e audiovisual, hoje sou produtor responsável por eventos como ( três edições) BNB Agosto da Arte, (nove edições) Mostra SESC Cariri de Cultura, e trabalho para Instituições como Governo do Estado do Ceará, além de várias prefeituras do Ceará na área publicitária e cultural, quem não lembra do comercial do Metrô do Cariri, que virou a “coqueluxe” do Cariri.
Atualmente desenvolvo trabalhos artísticos para os três Centros Culturais do BNB dentre outros projetos próprios da S.A Imagens, minha empresa produtora, juntamente com meu sócio Siqueira Jr.

Participei de duas exposições coletivas, realizei um trabalho que se tornou referência até para a Escola de Artes Visuais Violeta Arraes, o projeto percepções visuais que deu início a um grande ciclo da produção fotográfica da região, incentivando a todos que não se sentiam artistas visuais e muito menos fotógrafos a produzirem, quebrando vários preconceitos e mostrando que qualquer pessoa tem sim um artista dentro de si.
Desenvolvi o projeto Ateliê Ambiental do Caldas no distrito do Caldas em Barbalha, sempre em parceria com o Siqueira Jr., onde trabalhamos a fotografia como meio de preservação da natureza, realizamos quatro oficinas sendo uma delas pelo projeto Arte Retirante do CCBNB Cariri.


Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?

Leo Dantas - Arte e Política se misturam muito pois nenhuma delas pode existir separadamente, vejo hoje que tudo parte de boas vontades, pois se produzir arte é muito complicado e as vezes muito caro também, porem, percebemos de alguns anos pra cá uma ligação direta entre estas duas formas de expressão popular, pois é notório o crescimento da produção artística do Brasil depois de leis de incentivo, fomentando cada vez mais a produção e dando possibilidades reais de hoje se viver de arte no nosso país.

Alexandre Lucas - Você vem se dedicando as experimentações no audiovisual. Fale sobre esse trabalho?

Leo Dantas - Descobri há alguns anos o audiovisual de uma forma muito própria, pois adoro tecnologia, sendo assim em todas as minhas oficinas, produções e eventos eu gravava através de celular, câmeras fotográficas, e equipamentos mais simples de vídeo, então utilizando programas também simples criava poéticas audiovisuais incríveis, então percebi meu potencial para a área, comecei a produzir sem parar, tudo virava filme, fui conhecendo meu lado documentarista, pois ficava fissurado por mostrar as realidades do meu local, de locais visitados, histórias de pessoas e a natureza, hoje tenho cerca de seis documentários finalizados, e quatro por finalizar, sendo que nenhum de distribuição de massa, me enquadrando assim nas produções independentes do Brasil.
Através de amigos, mostras e dos coletivos é que meus filmes são exibidos, adoro esta forma de produção e isto me torna único e exclusivo, não discutindo assim a qualidade técnica da produção e sim a força da mesma.


Hoje produzimos documentários através da S.A Imagens para o Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil e trabalhamos projetos próprios além de projetos de DVD´s musicais e vídeos de registro para teatro e outros registros.

Alexandre Lucas - O trabalho coletivo é uma das formas de democratizar a arte?

Leo Dantas - Com certeza, aprendi a dividir muito cedo, pois sempre fui agraciado com certas divisões, e isto me fez bem, então vejo o coletivismo muito agradável e primordial à produção artística, pois assim produzimos mais e mais, e ajudamos a desenvolver a criatividade de muito mais gente, ajudamos como um todo a conscientizar.


Alexandre Lucas - Qual l a importância de uma graduação em Artes Visuais?

Leo Dantas - Nem sei dizer mais se sou estudante de Artes Visuais pois assisti apenas 3 semanas de aulas por conta de meu tempo muitíssimo corrido, acho que esta minha resposta vai ser censurada, hehehehe, vejo a graduação como um ponto forte em artistas contemporâneos, porém, hoje para mim, Leo Dantas não seria a principal forma de me tornar mais e mais conhecido ou intelectual, entretanto, volto a afirmar, quem tem este tempo para os estudos deve seguir, pois creio que sou hoje muito agraciado por Deus, sendo meio autodidata, (será que vão me compreender?).


Alexandre Lucas - Você acredita que a Academia elitiza a arte?

Leo Dantas - Sim, é uma forma de dizer... EU SOU...EU POSSO...acho que a arte não deve ser assim, mesmo muitos achando que eu me acho, sempre fui muito povão, vejo isto na minha produção, que muitos da região desconhecem.


Vejo a Academia como forma de conhecimento, então em si tratando da arte, que também se confunde com a vida, podem existir outras formas de se adquirir, basta querer.

Alexandre Lucas - Como você ver a produção de artes visuais no Cariri?

Leo Dantas - Adoro esta efervescência, pois me considero fruto dela, adoro ver pessoas produzindo, conversando e fazendo arte, isto é saudável para uma sociedade se tornar mais crítica e de certa forma positivista.

Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?

Leo Dantas - Apresento em minhas obras uma forma de se produzir com facilidade, formas básicas de se comunicar através das artes, então acho que com tudo que já fiz e ainda temos a fazer, ajudo a pessoas que se sentem como eu, um não artista a criar coragem para dizerem o que querem através de suas obras, pois a palavra de ordem para mim é produzir cada vez mais, e me tornar alguém mais crítico e capaz, então vejo que as pessoas que participam ativamente ou não de meu trabalho pode adquirir algum conhecimento mesmo não literato.

Alexandre Lucas - Quais os seus próximos trabalhos?

Hoje trabalhamos para três exposições fotográficas as quais estamos negociando com instituições do Ceará, duas relacionadas a natureza e uma outra voltada a terceira idade, três vídeos-instalação, estamos também desenvolvendo um novo documentário, este sobre o Arajara Park, e produzindo um piloto para TV aberta, estou desenvolvendo dois roteiros que ai é meio novidade, para editais de fomento audiovisual, e em fevereiro, estaremos mais uma vez no Centro Cultural do Banco do Nordeste Cariri desenvolvendo a oficina IMAGEM.DOC, oficina de documentário, o qual foi aprovado pelo edital de programação do BNB.